Beleza
Interior: Itaara, a cidade dos ETs
Fabrício Carpinejar | [email protected]
Um
olhar diferenciado sobre costumes e peculiaridades gaúchos
é a proposta da série Beleza Interior, que
vai percorrer um destino diferente do Rio Grande do Sul
todos os sábados de 2011. A cidade visitada na edição
de hoje é Itaara, que abriga um museu internacional
de ufologia. Na dúvida, o réu é
absolvido. Na incerteza, o extraterrestre existe. A frase
de São Tomé não funciona na pequena
Itaara, cidade localizada na região central do Estado,
a 257 quilômetros da capital gaúcha. A sentença
é inversa: acredita-se enquanto não se enxerga.
O lema é duvidar para crer.
— Olha, nunca vi, mas existe — expõe
Rodrigo Cauduro, 35 anos.
Os 5 mil moradores não menosprezam as galáxias
distantes. Tampouco o assunto provoca pavor.
— Os terráqueos têm o egoísmo
de achar que são os únicos seres — explica
a estudante Joice Abreu, 27 anos.
— Se eu estivesse sentado na varanda e viesse um óvni
no pátio, desde que não estragasse minha grama,
ofereceria um chimarrão ao alienígena —
antecipa o aposentado Nelson de Oliveira Rosa, 60 anos.
Itaara tornou-se a cidade dos ETs após virar sede
do primeiro e único Museu Internacional de Ufologia
na América Latina, que completou 10 anos em junho
e já contabiliza 180 mil visitantes.
A fortificação azul se assemelha a um disco
voador pousado numa área rural, em meio a estradas
tortas de barro e terrenos baldios. A dificuldade em chegar
ao local aumenta a curiosidade. O museu é dirigido
pelo historiador Hernan Mostajo, e sua mulher Roberta Ávila,
juntos há duas décadas, e foi batizado curiosamente
de Victor Mostajo. O filho adolescente do casal, que estuda
e mora em Santa Maria, empresta o nome ao lugar.
— Homenageamos os vivos e o futuro, não os
mortos e o passado.
Hernan estufa o peito como um tenor para guiar a visita.
Seus olhos negros nervosos criam suspense na hora de falar.
Suas pálpebras tremem sem querer e ajudam a adrenalina
da oratória. Ele não esclarece dúvidas,
dá palestra em toda resposta. Foge de questões
objetivas e pessoais devolvendo novas questões. Diz
ter sido recrutado por uma entidade em Ibirubá, em
1993. Na época, recebeu de presente fragmento de
um satélite da Nasa.
— Que entidade?
— Para quê?
O máximo que retiro dele é o seu apelido:
Neco. Na entrada do prédio, ele já começa
desculpando a simplicidade da amostra: — Conhecimento
não ocupa espaço.
A força do acervo está em sua performance
emocional. Ele dança, sapateia, grita. Não
afirma nada, faz intrigas. Não para um minuto de
contar histórias. Questiona ações governamentais
no Caso Roswell, de 1947, onde um óvni teria caído
no Novo México (EUA), e desenvolve criativas teorias
de conspiração sobre o lado oculto da Lua
e súbita interrupção das viagens espaciais
americanas. Reedita o apresentador Jack Palance, do programa
Acredite se Quiser. Roberta Ávila fica na retaguarda,
colocando ao fundo canções de Frank Sinatra
e Elvis Presley em momentos precisos da exposição.
A dupla escolheu Itaara pelo teto perfeito para observação
astronômica. Em outubro, pretende inaugurar o Observatório
Cosmos. Cerca de 15 escolas visitam mensalmente o museu,
que concilia material de cosmologia e ufologia com paleontologia
e arqueologia. As crianças se divertem com a explicação
do Big Bang e da reconstituição do cenário
pré-histórico. Podem tocar em cocô de
dinossauro e manusear ossos de animais extintos.
— Para entender a vida extraterrestre, é necessário
entender a evolução do homem — pontua
Hernan.
Da origem do universo a casos clássicos de abdução,
o professor vai assumindo um tom animado de Revolução
Farroupilha. No final, ele se transforma em Jack Palance
mais Bento Gonçalves. O Centro Victor Mostajo surge
como o museu internacional mais bairrista do mundo.
— Os mais antigos dinossauros da Terra são
gaúchos. E temos Artur Berlet, um tratorista de Sarandi
que foi abduzido em 1958 por um disco voador, viveu nove
dias no planeta Acart e antecipou experiências tecnológicas
fora de série para a época, como comunicação
via Skype em tela plana de plasma. Acredite se quiser, tchê!
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